A República.org e o Movimento Pessoas à Frente lançaram um novo estudo que mostra: o Brasil lidera o ranking internacional de supersalários no serviço público.
A pesquisa foi realizada por Sérgio Guedes-Reis, pesquisador da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD) e auditor de Finanças e Controle da Controladoria-Geral da União (CGU).
Analisamos dados de dez países: Alemanha, Argentina, Chile, Colômbia, Estados Unidos, França, Itália, México, Portugal e Reino Unido.
Brasil gasta R$ 20 bilhões acima do limite salarial
Entre agosto de 2024 e julho de 2025, identificamos que o Brasil gastou R$ 20 bilhões com pagamentos que ultrapassaram o limite legal da remuneração pública.
É o maior valor entre os países comparados e 21 vezes superior ao da Argentina, segunda colocada.
Os supersalários se concentram em poucas carreiras: magistratura (R$ 11,5 bilhões), Ministério Público (R$ 3,2 bilhões) e Executivo Federal (R$ 4,33 bilhões, dos quais 82% estão na Advocacia-Geral da União e nas procuradorias federais).
Quem ganha acima do teto no serviço público
O estudo mostra que 53,5 mil servidores ativos e inativos recebem acima do limite legal de R$ 46,4 mil.
Eles representam 1,34% de uma amostra de 4 milhões de profissionais analisados.
Para efeito de comparação, sete em cada dez servidores ganham até R$ 6 mil por mês, segundo a plataforma República em Dados.
Desigualdade salarial entre servidores brasileiros
Constatamos que quase 40 mil servidores estão no 1% mais rico da população, com renda anual acima de R$ 685 mil.
Além disso, cerca de 11 mil juízes receberam mais de US$ 400 mil no período (em valores ajustados por paridade de poder de compra).
Isso é mais do que qualquer magistrado recebeu em sete dos dez países analisados.
Impactos dos supersalários no Estado brasileiro
O gasto bilionário com supersalários aprofunda desigualdades, pressiona o orçamento e reduz a confiança da população nas instituições públicas.
Para Ana Pessanha, especialista em Conhecimento da República.org, o problema é estrutural: “os servidores precisam ter uma remuneração justa e sustentável, compatível com a complexidade do trabalho. Mas não é aceitável que uma pequena elite comprometa a boa imagem de todo o serviço público“.
Soluções adotadas por outros países
O estudo também apresenta exemplos de países que conseguiram conter distorções salariais com regras claras e mecanismos independentes.
No Chile e no Reino Unido, comissões externas definem faixas e reajustes com base em critérios técnicos. Nos Estados Unidos, valores acima do teto só podem ser pagos no ano seguinte, sempre respeitando o limite vigente.
Essas experiências indicam caminhos para o Brasil avançar no controle dos supersalários e promover uma gestão pública mais justa e equilibrada.
O documento completo, disponível para download, traz os resultados, a metodologia e recomendações para enfrentar o problema dos supersalários no país.